o Reunion Underground entrevistou o vocalista Yuri Sabaoth da banda de Death Metal de Brasília FLESHPYRE que lançou no início do ano de 2018 o poderoso debut album UNBURYING THE HORSES OF WAR... confiram nesse bate papo um pouco da história da banda e tudo sobre o disco de estreia. stay brutal!!!
1-
Yuri conte-nos como foi formada a banda
Fleshpyre.
Então, o Daniel Moscardini (batera) e o Diego Lima (Guitarra) já se conheciam e cada um teve uma série de bandas e participações em várias outras no circuito do Metal aqui no DF. Ambos tem um trabalho muito sólido e tavam com essa ideia em comum. O Diego já veterano com uma série de riffs fodas e criativos pro que a gente costuma ouvir aqui no DF, e o Moscardini já consolidado como um ótimo baterista daqui, inclusive como endorser de uma série de marcas e professor na sua própria escola de bateria. Foi desses circuitos e dos contatos entre eles que surgiu a ideia de criar um projeto de metal extremo, mais especificamente de Death Metal, investindo bastante em técnica e sem esquecer as melodias, pra não ser aquela coisa batida, e se botando também sempre à prova pra novos desafios, claro. Eles ficaram fechados em estúdio compondo durante algum tempo. Isso entre 2014 e 2015. Mais de ano mesmo, só em estúdio. Nisso, passaram pela banda ainda nessa fase fechada alguns vocalistas, mas acabaram saindo antes mesmo terminar. O Josivan Ribeiro (baixo) começou a tocar na outra banda de Death Metal do Moscardini, a Coral de Espíritos, e trabalhar junto. Ele teve sua competência reconhecida, e viram que ele era o cara pra levar o baixo nesse novo projeto, pela sua técnica e compromisso, e então se uniu à proposta. Depois da saída do último vocal, eles buscaram alguém que pudesse assumir os guturais dessas composições que tinham muita influência de Death. Meu contato com a banda já havia surgido um tempo atrás, pois eu acompanhei de perto alguns ensaios, e o Josi era (e ainda é) também meu parceiro em outro projeto de Metal daqui, a DOI-CODI. Ele já me conhecendo desse tempo todo, e os caras também, aos poucos, me chamaram pra fazer uns ensaios, experimentar uns sons, compor umas letras e acabaram curtindo. Tô agora com eles nisso, sempre com esse reforço mútuo e contribuição crescente entre todos.
2-
Gostaria de saber sobre a concepção do
maravilhoso álbum Unburying the Horses of War... Capa, letras...
Nosso principal tema e motivação de clima e letras para esse disco é a brutalidade, o ódio e miséria humanas. É um disco pessimista do começo ao fim. Dos riffs à ideia central, que é essa questão com o título, também: “Desenterrando os Cavalos de Guerra” - o que também se relaciona com ser nosso primeiro material, um começo.
Na capa o plano era traduzir isso. O Diego já conhecia o trabalho do Zakuro Aoyama, um artista brasileiro, daqui mesmo do DF, e já mandou pra gente o portfólio do cara. A gente entrou em contato e começamos com a concepção. Falamos pra ele o nome, o tema, pensamos numa configuração pra capa, mais ou menos o que a gente queria ver. Daí saiu esse material foda. O cara mandou muito. Acreditamos que tá muito bem representativo do nosso trabalho.
Nas letras a gente tenta reproduzir tudo isso que já te falei. Mas a tônica geral é traduzir esse pessimismo que disse ser o foco da banda. O ódio contido e incontido, isolamento, prazer egoísta e hedonista, autoridade e poder. Tudo faz parte da obra. Em termos instrumentais, eu fico muito satisfeito também de participar desse trabalho. Os caras investiram muito tempo e suor pra fazer essa coisa variada. Os tempos são bem trabalhados e as viradas de bateria do Moscardini são animais. O baixo marca definitivamente sua presença, e acho que tá sempre em sintonia com a guitarra, ambos na variação entre as dissonâncias e os momentos mais melodiosos.
3-
Conte-nos a respeito das influências musicais da
banda
São variadas, mas no geral a gente ouve muito Death.
Absolutamente, é a banda que representa a maior referência em comum pros quatro
membros. Além disso tem muito Behemoth no meio, Dream Theater e Slayer. Isso é
o que tá mais próximo dos membros, no que a gente traz pro som, creio. Mas cada
um ouve uma infinidade de coisas que são menos aparentes no disco, e tem outras
influências mais distantes de Doom e Black Metal, também.
4-
Paralelamente à Fleshpyre você desenvolve atividades em outras
bandas de Brasília. Gostaria de saber um pouco sobre essas bandas.
Atualmente tô com a Fleshpyre e a DOI-CODI. No caso a proposta dessa outra
é diferente. É mais política, principalmente de crítica, e tem muita ligação
com hardcore. Até circulamos em ambientes um pouco diferentes, apesar de às
vezes se encontrarem. Sou historiador e essa formação eu exponho mais nesse
outro projeto, até porque meu foco de estudo e pesquisa é a Ditadura Militar.
5-
Como anda o cenário underground do DF
atualmente?
Tá bem misto. Aqui rola muito HardCore, Thrash e Death, que
tão na maioria dos eventos. Sei de outras bandas de Doom e Blackgaze que tão
rolando, mas é mais difícil ter esses eventos. As coisas aqui rolam mais no
independente, então muitas vezes é galera de banda fazendo seus próprios eventos,
e tem uns pontos que já tão consolidados há alguns anos por aqui. Rola muita
coisa no Círculo Operário do Cruzeiro, que é onde o Felipe CDC (do Terror
Revolucionário, Caligo, etc) faz bastante evento. Inclusive é importante citar
ele, porque é um dos grandes impulsionadores da cena aqui. Tem bastante coisa
no PSul, também, e na Samambaia.
Acredito que não seja a mesma coisa que a gente ouve dos anos 80, 90,
mas ainda sobrevive. Não sei se os anos 201x são os mais fervilhantes em termos
de Metal – e isso pelo país todo – mas tenho certeza de que ainda tem muita
banda boa nascendo e muita variedade de som, e isso é muito bom. Também rola
muita mistura e não tem muitos espaços segregados em termos de som aqui. Galera
de rolés diferentes se cruza e divide espaços direto.
6-
Agradeço a entrevista e deixo o espaço aberto
para suas considerações.
Quero deixar de mensagem aqui aquele toque pra galera apoiar
o autoral e independente. Não só a Fleshpyre, mas tudo que é banda local. Vá
descobrir o que tão criando. Ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas acho que
deve existir um compromisso de pelo menos descobrir. E se tiver algo bom no
meio, que te agrade, que dê força, porque não é fácil. Vá nos rolés de esquina,
na praça, no bar, na casa de shows. Tudo que é bom começa de algum lugar,
também. E é isso aí, temos banda pra caramba, mas o espaço pro Metal me parece
que fecha todo dia. Quem cria o espaço é a galera que acompanha o rolé com as
bandas e aqueles que ouvem também. É isso. Que o que a gente gosta ainda sobreviva
muito tempo! Underground resistindo.